Escrever é uma tarefa muito ingrata. Muito levada. Como se não bastasse a própria dificuldade da coisa, sua irmã mais velha é o pensar.
A pensar conta para a escrever todas as travessuras que já aprendeu, posto que é mais velha. Sabe muito bem, tem no repertório um danado número de travessuras e malcriações. A pior delas, talvez, é a que a escrever mais aplica a quem, digamos assim, é dado a ela: a fuga.
Porque quem escreve pensa muito, é desajustado em pensar. Mas vá colocar no papel esse embrólio de pensamento. A escrita, nessa hora, nunca viu um corretivo. É como se ela visse a pensar correr, olhando para trás e rindo, e vai-se embora junto, às gargalhadas.
É um inferno. Essas duas, apesar de uma ser mais velha que a outra, formam um par perfeito para atazanar a vida de quem sangra palavras. Com o tempo, é possível desenvolver truques para fisgar a escrita, seja pelos calcanhares, pela barra do vestido ou pelos cabelos mesmo.
Elas dão trabalho, a pensar atormenta, e a escrita vai não coopera. Somente aos poucos é que se aprende a conviver com elas e… hum… driblar suas malcriações.
Quando se aprende isso, quando isso é incorporado, quando isso vira um saber, os dias ficam mais leves, as palavras fluem melhor e elas crescem que a gente nem vê.