Porrada News - Por que vim morar em Vitória?
Vamos fechar janeiro fechando 2024. Quero dar notícias sobre mim.
Vou tentar ser breve, porque sou explorado em escala 6x1 e não tenho tempo de ficar escrevendo para ninguém ler. Mas como estou sem terapia no momento, é o que tem pra hoje. Não vai ser um texto aprazível.
Estou descobrindo nos coices como a depressão é solitária. Depressão é cafona. O depressivo é abjeto. Dos contatos que eu tenho, uns poucos falam comigo sobre. Surpreendentemente, é meu irmão quem tem me distraído com conversas mais sinceras sobre os dias e o peso deles. Ninguém quer te acolher.
No primeiro dia do ano, rasguei a parcimônia e postei um story falando em suas frases como eu quis morrer durante praticamente todo o ano de 2024. Pessoas que me deram presente de aniversário, viajaram junto comigo, estudaram, conviveram, trabalharam e tudo o mais, ninguém.
Ninguém deu a mínima. Eu, que nunca tive traquejo social suficientemente operante para construir uma rede de amigos suficientemente íntimos, me vi (sinceramente) sozinho. Uma nova fenda se abriu na minha percepção de mim mesmo: estou sozinho. Nenhuma relação que criei nos últimos 20 anos foi forte o bastante para se impactar com uma notícia dessa sobre mim. Pasmem: a pessoa que mais sabe sobre mim é alguém com quem dividi salas de jogos durante a pandemia, mora em São Paulo e só nos vimos pessoalmente uma (01) vez.
Meu mais sincero vá para a puta que pariu a você que está lendo este texto e não sabe o que estou passando.
Estou em vias de ter acesso a um plano de saúde e irei fazer o necessário para obter um diagnóstico neurológico. Quero saber por A+B porquê sou assim. Quero meu laudo. Cheguei ao limite.
O ano passado inteiro foi uma asfixia cada vez mais sufocante à medida que sucessivamente fui perdendo tudo que dava base à minha - já não tão confortável - vida. Fevereiro: relacionamento de 7 anos - terminado. Março/Abril: relacionamento precoce e avassalador - terminado. Maio: emprego de 3 anos (o mais longo da minha vida) - demitido à beira de um burnout. Um emprego freelance que me ajudava a dar conforto financeiro - dispensado. Outro freelance - dispensado (sim, eu tinha 3 empregos). Maio/Junho: meu gato - roubado. Agosto: meu celular - perdido na praia. Setembro: litígio com o locador do meu apartamento porque adotei uma gatinha filhote com feridas expostas. Outubro: bike que era meu xodó, celular novo com duas semanas de uso, mochila do trabalho com documentos, objetos pessoais de enorme valor cotidiano - roubados num assalto violento. Outubro ainda: demitido do meu primeiro emprego em Vitória nos 45 dias da experiência, devido ao baixo desempenho por conta dos efeitos colaterais do novo antidepressivo que eu havia passado a tomar (o segundo no ano. O que eu comecei a tomar lá em Janeiro simplesmente não fez efeito). Dívidas devidamente empilhadas. Casa sem móveis. Virei fumante. Só isso? Não. O Diabo mora também nos detalhes. Querem um exemplo? Um golden retriever de um carioca filho da puta urinou na minha caixa térmica enquanto eu descansava entre uma entrega e outra que eu estava fazendo para o iFood (demorei 4 meses para receber o que trabalhei). Ele me xingou porque eu cobrei uma providência. Voltei para casa fedendo mijo de cachorro. Pronto, dei um exemplo. Foi um ano inteiro nesse pique. Então assim…
Não sei como estou vivo.
Quero acreditar que é só uma fase, e não apenas a ladeira que vai me levar ao suicídio. Porque eu não quero me matar, mas os dias tem me desafiado a cada minuto, a cada crise, a cada infortúnio, a cada luto, a cada vez que o dinheiro esgota no banco e a geladeira fica vazia ao mesmo tempo, a cada bom dia que dou aos colegas quando inicio o expediente, antes de andar de 12 a 15 quilômetros por dia dentro da loja, 6 dias por semana. Meu antidepressivo está tentando apagar o incêndio na floresta à base de sopro.
Loja? Sim. Acho que depois de 4 anos tentando me (re)colocar no mercado de marketing e 9 no mercado editorial, posso rasgar meu diploma, certo? Foi o que eu fiz (simbolicamente). Muita coisa morreu em mim ano passado. Quem quis saber? Quem quis me apoiar? Quem se preocupou?
Lembranças e mais lembranças e mais lembranças e mais lembranças, no meio da desgraça instalada, da qual eu não fazia a mínima ideia de como sair. De como, sequer, minimizar. Uma vida inteira, (em fevereiro) 30 anos, vividos sem construir nada. Uma venerável inaptidão em terminar o que começo. Conhecem a história da garotinha coreana que queimou viva em silêncio para não entregar a localização de sua família aos soldados japoneses?
É isto. Vou ficando por ali, no dezembro do ano que me aleijou. Sou outra coisa. Você que me conheceu antes de 2024, se é que algum dia iremos nos reencontrar, esteja ciente, não serei reconhecível. Não sei quanto tempo mais tudo vai durar (aliás, nunca soube, mas agora é real). Soçobro com meus conhecimentos, que não são poucos, noções de psicanálise e toda maconha que eu puder fumar daqui em diante.
Não me perguntem mais como estou. Eu não aguento mais tentar responder. Quando você pergunta “Tudo bem?”, você não quer ouvir a resposta, você só quer ouvir “Tudo”.
Feliz dois mil e vinte e cinco.